sábado, 31 de março de 2012

Perfect Life

Autor: Tháàty

Link: Perfect Life




E minhas mãos foram novamente em busca dos utensílios de corte que eu sempre guardava no mesmo lugar, pude senti a cocaína já fazendo efeito. Meus olhos estavam pesados e inchados. Apoiei-me no lavatório do banheiro tentando me manter acordada.

Peguei mais uma pedra, já que não encontrava minha velha tesoura enferrujada. Quebrei em pedaços pequenos sobre a placa de mármore bege, derrubando alguns remédios que eu deixara para esconder uns canudos.

Coloquei a ponta de um deste sobre a droga e respirei fundo permitindo que aquela substância invade-se em meus pulmões sem dificuldade.

– Lucy, venha aqui, por favor. Me desculpe – ouvi minha mãe berrando do outro lado da porta desesperada.

– Eu. Não vou sair, já disse. Que merda. – a respondi colocando tudo que eu estava usando dentro de uma bolsa velha de plástico que ficava em cima do armário.

Suspirei percebendo que as lágrimas já invadiam meus olhos como estúpidas gotas de chuva que escorrem pelo chão. Então uma pequena gota de ódio desce sobre minha face, deslizando e mostrando fracasso. Tinha prometido a mim mesma não chorar.

Merda.

Tateei os remédios em busca da minha tesoura, ela estava bem aqui... Achei.

A peguei e tentei controlar o choro que inundava meu rosto.

Levantei a manga longa da minha blusa de frio azul-marinho deixando a mostra meu antebraço nu e marcado, estava muito dolorido devido às outras vezes.

Engoli uns dois analgésicos para tomar coragem e relaxei os ombros. A pele branca dos meus braços pareciam tão frágeis.

Pressionei a tesoura sobre a pele fina e úmida devido às lágrimas, perfurando cada camada da dor que com isso parecia transparecer. O sangue começou a escorrer em abundância, se igualando a cada dor que eu já senti, cada sofrimento, saindo de dentro de mim com apenas uma abertura. Peguei um pequeno pano cortado irregularmente que havia colocado dentro de umas das gavetas e apertei contra o pequeno e profundo corte que tinha feito.

– Lucy, se você não abrir esta porta eu vou ligar para seu pai – ela gritou novamente eufórica.

– Espera mãe – guardei tudo e tentei tirar a maior parte do sangue que derramava continuamente colocando água. Isso sim era bom. Com apenas aquele pequeno toque de água gelada em meu braço, o que eu havia cortado começou a arder constantemente, era uma dor que ao mesmo tempo incomodava, era incontrolavelmente agradável, viciante. Mordi meu lábio inferior gemendo de prazer. Fechei a torneira rapidamente e coloquei a manga da blusa em posição, fazendo-a cobrir o ferimento.

Posicionei a mão entre a boca e o nariz para ver se o cheiro havia ficado muito forte e fiz um coque alto e bagunçado com meus longos fios pretos.

Abri a porta tentando não encarar a minha mãe, mas como já era previsto ela começou a brigar de novo.

– Quando eu falar com você, ai de me responder sua vagabunda imprestável – berrou acendendo um cigarro com o isqueiro prateado do meu pai.

– Eu não sou vagabunda e isso – bati no isqueiro o derrubando de sua mão fazendo cair sobre o tapete ainda aceso – Não é seu.

– Você acha que está fazendo o que vadiazinha? – ela falhou em tentar me encarar. Esticou um de seus pequenos e curtos braços puxando meu cabelo desmanchando o coque que havia feito a pouco estante e me jogando contra o piso frio.

Meus olhos foram em encontro aos delas pela primeira vez naquele dia, fiz um pequeno esforço para tentar me levantar e sai porta afora.

– Volte aqui Lucinda – ela disse apontando para um lugar próximo ao dela – Volte.

Olhei pela última vez para traz, mas não para minha mãe. Para o tapete que começara a queimar por conta do fogo. Bati a porta com força e peguei a chave que eu havia deixado escondida por traz do extintor de incêndio e tranquei jogando-a para longe.

Subi pela escada de emergência até o último andar do meu prédio. O vento quente da Califórnia já conseguia tocar meu rosto. Senti o cheiro da fumaça vindo do meu apartamento. Andei até a borda do terraço admirando a visão, subi em cima do pequeno e longo parapeito que se estendia entorno do prédio. Pensei na minha infância. Sempre sofri nas ruas e sobre tudo na escola por ser um pouco acima do peso, hoje eu peso 39,6 quilos com 17 anos de idade. Meu corpo balançava um pouco de acordo com o vento e as lágrimas voltaram novamente a escorrer. Respirei fundo pela última vez em minha vida e mergulhei em caminho dos céus.


Crítica: POR QUE EU LI e precisava comentar sobre esse texto. Quem escreveu esse texto está de parabéns. Fiquei sem palavras, claro, é um texto profundo, apesar de que não gosto muito desses textos em que pessoas se cortam, ANYWAY, eu precisava de qualquer jeito falar sobre esse texto, por que a NARRATIVA da pessoa que o escreveu, é precisa e inteligente. Sem muitos errinhos...
Enfim, você tem futuro, Tayná, certo? Parabéns pelo seu texto.

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sábado, 31 de março de 2012

Perfect Life

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E minhas mãos foram novamente em busca dos utensílios de corte que eu sempre guardava no mesmo lugar, pude senti a cocaína já fazendo efeito. Meus olhos estavam pesados e inchados. Apoiei-me no lavatório do banheiro tentando me manter acordada.

Peguei mais uma pedra, já que não encontrava minha velha tesoura enferrujada. Quebrei em pedaços pequenos sobre a placa de mármore bege, derrubando alguns remédios que eu deixara para esconder uns canudos.

Coloquei a ponta de um deste sobre a droga e respirei fundo permitindo que aquela substância invade-se em meus pulmões sem dificuldade.

– Lucy, venha aqui, por favor. Me desculpe – ouvi minha mãe berrando do outro lado da porta desesperada.

– Eu. Não vou sair, já disse. Que merda. – a respondi colocando tudo que eu estava usando dentro de uma bolsa velha de plástico que ficava em cima do armário.

Suspirei percebendo que as lágrimas já invadiam meus olhos como estúpidas gotas de chuva que escorrem pelo chão. Então uma pequena gota de ódio desce sobre minha face, deslizando e mostrando fracasso. Tinha prometido a mim mesma não chorar.

Merda.

Tateei os remédios em busca da minha tesoura, ela estava bem aqui... Achei.

A peguei e tentei controlar o choro que inundava meu rosto.

Levantei a manga longa da minha blusa de frio azul-marinho deixando a mostra meu antebraço nu e marcado, estava muito dolorido devido às outras vezes.

Engoli uns dois analgésicos para tomar coragem e relaxei os ombros. A pele branca dos meus braços pareciam tão frágeis.

Pressionei a tesoura sobre a pele fina e úmida devido às lágrimas, perfurando cada camada da dor que com isso parecia transparecer. O sangue começou a escorrer em abundância, se igualando a cada dor que eu já senti, cada sofrimento, saindo de dentro de mim com apenas uma abertura. Peguei um pequeno pano cortado irregularmente que havia colocado dentro de umas das gavetas e apertei contra o pequeno e profundo corte que tinha feito.

– Lucy, se você não abrir esta porta eu vou ligar para seu pai – ela gritou novamente eufórica.

– Espera mãe – guardei tudo e tentei tirar a maior parte do sangue que derramava continuamente colocando água. Isso sim era bom. Com apenas aquele pequeno toque de água gelada em meu braço, o que eu havia cortado começou a arder constantemente, era uma dor que ao mesmo tempo incomodava, era incontrolavelmente agradável, viciante. Mordi meu lábio inferior gemendo de prazer. Fechei a torneira rapidamente e coloquei a manga da blusa em posição, fazendo-a cobrir o ferimento.

Posicionei a mão entre a boca e o nariz para ver se o cheiro havia ficado muito forte e fiz um coque alto e bagunçado com meus longos fios pretos.

Abri a porta tentando não encarar a minha mãe, mas como já era previsto ela começou a brigar de novo.

– Quando eu falar com você, ai de me responder sua vagabunda imprestável – berrou acendendo um cigarro com o isqueiro prateado do meu pai.

– Eu não sou vagabunda e isso – bati no isqueiro o derrubando de sua mão fazendo cair sobre o tapete ainda aceso – Não é seu.

– Você acha que está fazendo o que vadiazinha? – ela falhou em tentar me encarar. Esticou um de seus pequenos e curtos braços puxando meu cabelo desmanchando o coque que havia feito a pouco estante e me jogando contra o piso frio.

Meus olhos foram em encontro aos delas pela primeira vez naquele dia, fiz um pequeno esforço para tentar me levantar e sai porta afora.

– Volte aqui Lucinda – ela disse apontando para um lugar próximo ao dela – Volte.

Olhei pela última vez para traz, mas não para minha mãe. Para o tapete que começara a queimar por conta do fogo. Bati a porta com força e peguei a chave que eu havia deixado escondida por traz do extintor de incêndio e tranquei jogando-a para longe.

Subi pela escada de emergência até o último andar do meu prédio. O vento quente da Califórnia já conseguia tocar meu rosto. Senti o cheiro da fumaça vindo do meu apartamento. Andei até a borda do terraço admirando a visão, subi em cima do pequeno e longo parapeito que se estendia entorno do prédio. Pensei na minha infância. Sempre sofri nas ruas e sobre tudo na escola por ser um pouco acima do peso, hoje eu peso 39,6 quilos com 17 anos de idade. Meu corpo balançava um pouco de acordo com o vento e as lágrimas voltaram novamente a escorrer. Respirei fundo pela última vez em minha vida e mergulhei em caminho dos céus.


Crítica: POR QUE EU LI e precisava comentar sobre esse texto. Quem escreveu esse texto está de parabéns. Fiquei sem palavras, claro, é um texto profundo, apesar de que não gosto muito desses textos em que pessoas se cortam, ANYWAY, eu precisava de qualquer jeito falar sobre esse texto, por que a NARRATIVA da pessoa que o escreveu, é precisa e inteligente. Sem muitos errinhos...
Enfim, você tem futuro, Tayná, certo? Parabéns pelo seu texto.

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